O papel da tecnologia na saúde é tema de terceiro painel
O papel da tecnologia na saúde é tema de terceiro painel do Global Forum Fronteiras da Saúde
No terceiro painel do debate, moderado pelo médico oncologista Fernando Santini, do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, a tecnologia foi tratada como o presente da nossa vida e não o futuro, ressaltando, ainda, que o desafio maior é como inserir essa tecnologia de forma sustentável na saúde. Santini, como médico, também ressaltou que eles gastam muito tempo com burocracias e a tecnologia deveria ajudá-los a passar mais tempo com os pacientes.
O jornalista e fundador da empresa Bites, Manoel Fernandes, trouxe o dado de que 11 milhões de buscas para a palavra “sintomas” foram feitas no Google, o que já denota a importância da tecnologia nas nossas vidas. Para Manoel, entretanto, “a tecnologia pode ser o caminho mais rápido para chegar ao lugar errado”. O contexto é muito importante e saber quais dados devem ser analisados e construir uma “aliança pela simplicidade” são os maiores ideais de um setor que ele considera conservador. Ele pondera ainda que é o Estado que deve trazer o drive do uso das tecnologias para a sociedade.
Após a definição de conceitos fundamentais e diferenças sobre o que é a inteligência artificial (IA), o machine learning e o deep learning, Luiz Carvalho, da Nexo, levantou que a academia brasileira não está preparada para a tecnologia e mantém o mesmo direcionamento de 50 anos atrás, mesmo que o mindset do brasileiro já esteja mudando. “A mídia não contribui para acabar com o preconceito contra a tecnologia, porque a tecnologia é meio e não fim; não vai tirar empregos ou trazer o mal.” E sobre o caminho lento que a tecnologia vem andando na saúde, Carvalho ressalta que o “risco à vida nos inibe em tomar algumas decisões que são mais fáceis de ser empreendidas em outros mercados”.
Isso porque, segundo Leonardo Vedolin, da DASA, as pessoas ainda têm um imaginário equivocado. “Não estamos, ainda, em uma época em que algoritmo possa substituir o médico, mas sim trazer eficiência ao sistema como um todo”, salienta, como em São Paulo, onde cerca de 1 milhão de pacientes faltam às consultas médicas e um algoritmo que predissesse quem vai faltar e ainda avisá-lo de que tem uma consulta, tentando evitar a ausência, traria aumento na eficiência e economia de recursos.
Há espaço para IA ser um suporte de decisão do médico, lembra Vedolin, que citou que não é incomum que a tecnologia selecione imagens que predizem um tumor e que não foram vistas pelo olho humano. O problema da saúde é que não houve tempo de evolução do setor, já que não houve tecnologias de grande impacto para resolução de problemas, a exemplo de outras indústrias. O setor ainda não está maduro, pois serão
gastos 120 bilhões de dólares em IA, mas isso ainda representa “soluções em busca de problemas” e não o contrário. “Mas, sem dúvida, a tecnologia é parte da solução para eficiência da saúde”, conclui.
Já Daniel Morel, médico oncologista do IBM Watson, falou sobre como a tecnologia pode reduzir custos, dando o exemplo do sistema Watson que sistematiza a prescrição médica baseada em evidências, usando as características clínicas de cada paciente, e a informação selecionada pelo médico para se retroalimentar. A partir daí, essa sistematização vira “o melhor uso do quimioterápico no estado do Ceará, por exemplo, auxiliando a tomada de decisão do médico e o fluxo do paciente dentro do Serviço.” Outra inovação oferecida pelo Watson é a busca por artigos na literatura para sistematizar a melhor evidência do uso das terapias, que é importante na hora da discussão entre médico e auditor. O médico também trouxe à tona a questão dos sistemas de prontuários eletrônicos diferentes, que atrapalham o manejo da informação por qualquer sistema. E pontua que o como os dados são usados é que deve ser regulamentado, do ponto de vista da segurança no manejo dessa informação.