“AVALIAÇAO DA CONTAMINAÇAO DO FLUIDO DE PRESERVAÇAO DE ORGAOS E DO ENXERTO EM TRANSPLANTES RENAIS”.
Introdução: A contaminação da solução de preservação (SP) em transplantes de órgãos sólidos é relativamente pouco discutida na literatura, sendo, pois, a sua real importância na morbimortalidade pós-operatória do transplante, pouco valorizada.
Objetivo: Avaliar e caracterizar a taxa de contaminação da solução de preservação e do enxerto renal provenientes da captação a partir de doadores falecidos, tentando estabelecer alguma correlação com as características do doador.
Métodos: Foram avaliados 148 órgãos provenientes de doadores falecidos transplantados em nosso serviço, oriundos dos diferentes centros de captação. Imediatamente após a abertura dos invólucros externos, foram colhidas amostras do SP e do tecido renal, sendo as mesmas enviadas para análise de contaminação bacteriana e fúngica. Os resultados obtidos foram cruzados com os dados provenientes do doador como tempo de internação em UTI, tipo e tempo de tratamento com antibióticos previamente à captação, relato de infecção pregressa, tempo que o órgão permaneceu estocado em gelo, etc.
Resultados: A análise do material revelou contaminação bacteriana ou fúngica em 43 espécimes, sendo Stafilococcus 19 (44%), Pseudomonas 10 (23,2%), Enterococcus 7 (16,2%), Candida 5 (11,6%) e S. pneumoniae em 2 (4,65%) das culturas. Dentre elas, constatou-se que o enxerto era proveniente de paciente internado em UTI e em uso de antibioticoterapia em 12 casos (27,9%) e que, nos outros 10 casos (23,2%,) o paciente tinha no máximo 5 dias de admissão hospitalar. Outro fator relevante foi que em 70% das amostras infectadas os doadores foram submetidos a captação de múltiplos órgãos. Apesar da contaminação identificada, foi mantida apenas antibioticoterapia profilática, com boa evolução dos pacientes.
Discussão: A incidência de contaminação de órgãos na literatura varia de 2,2% a 23,0%, onde acredita-se que a contaminação da SP é provavelmente independente da contaminação do doador. Possíveis fontes de infecção podem incluir o manuseio dos rins e a exposição à contaminantes durante a captação de órgãos, especialmente no doador de múltiplos órgãos.
Conclusão: A contaminação bacteriana do líquido de preservação não é incomum no TR. Na maioria dos casos, são de baixa virulência e não apresentam risco significativo. Nossos resultados confirmam que a contaminação do doador não é mais uma contraindicação ao transplante.
Solução de preservação; contaminação; rim; enxerto; transplante
Transplante Renal / Miscelânea
Faculdade de Medicina de Botucatu - Hospital das Clínicas - São Paulo - Brasil
Felipe do Carmo Moura, Paulo Roberto Kawano, Rodrigo Guerra da Silva, Hamilto Yakihissa Yamamoto, Fernando Ferreira Gomes Filho, José Carlos Trindade Filho, Luís Felipe Betti Casagrande, Matheus Almeida Sperini, Bruno Bertoni Ferraz, Carlos Márcio Nóbrega